sábado, 22 de janeiro de 2011

Que teus olhos desnudos sejam atendidos


Embriagados das noites frias e silenciosas os olhos na imensidão derradeira apresentavam o mundo despido e a vida era mostrada sem ensaio...valia o sorriso ou o vazio...
Quietude no ressentimento que leva o corpo a pequenez do ser... perdido em si, desprovido da elegância tímida de viver, ali no meio da multidão os braços se despiam das incertezas de cada um, e a canção era anônima por que a música não alcançava os ouvidos insanos, era a despedida mansa...o abandono
Mas os olhos desnudos empoeirados de história mesmo cansados da cortina dos sentidos...sorriu, timidamente...
As manhãs brindavam os dias e a multidão sem perceber os olhos, era órfão da beleza da vontade calejada de sonhos e os pés que a terra comia eram de todos.
Nascia dentro de tudo a vontade do barulho da eternidade vigorosa de querer ver...

Eloy
16/12/2010
03:36

O SUBMUNDO DE...


Olhava pela janela observando a paisagem interiorana, causando um sentimento de melancolia. O vagão era aquele de viagem longa, com bancos confortáveis, tudo era limpo e organizado. A cada 15 minutos uma pessoa passava para atender os passageiros.
-Por favor, uma água. Gritou um Sr gordo, Carlos Damasceno (Sr. Carlão), tipo sossegado que gostava de freqüentar a sombra das árvores do parque de sua cidade no final do dia. Lia essas revistas sensacionalistas. Suas risadas espalhavam-se pelo vagão assustando os distraídos. Josué sentava ao seu lado, fazia caretas de vergonha, era sobrinho do Sr Carlão, aquele que a pouco falei. Uma espécie de garoto que cultuava malvadezas, 14 anos de idade, seu tipo era franzino com olhos arregalados cheios de sardas no rosto e quando andava gingava como se fosse um João bobo. Estava irritado com o jeito do tio. Um Sr. muito idoso levantou para ir ao banheiro, Josué de imediato colocou a mala do tio no corredor e o Sr. idoso sem perceber tropeçou, esborrachando-se no chão. Seu nome era de uma estranheza, chamava-se Sr. Mastrantoniberto (Sr.Berto) bateu com o nariz no chão ficando todo lambuzado de sangue e o garoto sem preocupação nenhuma ria sem parar e suas sardas pareciam bolinhas a pular em seu rosto. Sr. Carlão deu uma olhada para o individuo espalhado como um tapete e começou a rir dando tapas nas costas do sobrinho. À frente das duas figuras oníricas encontrava-se uma bela dama, Sta. Maristela, usava um vestido azul turquesa, sandálias de dedo, possuía cabelos longos de uma formosura extraordinária, sua boca desenhava um volume de saciar o desejo incontrolável dos homens, a pele branca como a neve e o seu perfume começaram a enfeitiçar o Sr. Carlão, que ao contrario, possuía um cheiro horrível. A moça ficou indignada com atitude de Josué, Sr. Carlão, de imediato para chamar atenção da bela moça, chamou o segurança e pediu para colocar seu sobrinho de castigo. O segurança possuía uns dois metros de altura, seus braços eram duros como uma bigorna. Josué nem pensou em resistir, foi levado como uma folha de papel para uma espécie de quartinho, e lá ficou trancado. Quando acendeu a luz percebeu que existia naquele espaço apenas um armário, vendo que não estava trancado abriu a porta, encontrou apenas livros. Josué odiava ler, mas estava preso, não tinha nada o que fazer, pegou um livro, por ironia ou coincidência justamente estava em suas mãos, o livro “Recordações da Casa dos Mortos” de Dostoievski. Começou a ler, dava pulos toda vez que uma nova surpresa aparecia no romance. Sua fisionomia estava diferente, seus olhos não estavam estalados de desejos de fazer malvadezas com as pessoas, a cada capitulo que lia olhava para o teto como se estivesse refletindo o que acabará de ler. Numa certa altura começou a ter sonolência e adormeceu. Josué começou a sonhar...
Ano de 1968, era um dia chuvoso estávamos todos reunidos para organizarmos mais uma ofensiva contra o governo, as armas e munições estavam distribuídas e o plano estava traçado. Cada um sabia o que fazer e a atenção tinham de ser redobrada. Fora daquele lugar devia nos portar com naturalidade sem que ninguém suspeitasse de nosso grupo até nossas famílias e amigos. Tudo combinado, cada um do grupo saiu daquele lugar indo de encontro a uma vida normal para no dia seguinte retornar a uma nova reunião para definição final do plano e assim ser aplicado. Josué foi o primeiro a sair, era um rapaz que tinha um vício, a leitura, gostava tanto dos clássicos como dos modernos, seu físico era miúdo, mas era uma pessoa de um humor espontâneo e uma inteligência que ilustrava com rapidez seu pensamento e idéias. Estava a caminho de casa, morava próximo à Igreja Santa Ifigênia que ficava de frente a um viaduto de pedestre com o mesmo nome. Josué olhando de longe o viaduto. Para ele era um dos lugares que mais apreciava no centro da cidade por possuir uma visão maravilhosa do vale do Anhagabau. Passou pela sua casa, acenou para sua irmã e seguiu caminho. Chegando no meio do viaduto parou para apreciar o movimento e a paisagem que enfeitava o vale. Num gesto corriqueiro colocou sua mão no bolso de seu casaco, um documento fornecido pelos companheiros, era muito arriscado andar pela cidade com aquele papel. Josué virou para direção de sua casa com intenção de ir para lá, quando dois homens se aproximaram, vestiam roupas idênticas como se fossem gêmeos. Josué começou a transpirar, um deles perguntou:
-O Sr é Josué Damasceno?
-Sim sou eu, o que desejam?
-Apenas queremos fazer algumas perguntas.
-Pois não, perguntem? Josué estava tremendo, não conseguia conter o nervosismo.
-O Sr. estuda na USP?
-Sim, estudo.
-O Sr. não foi à aula hoje, onde estava?
-Estava na casa de alguns amigos, como vocês sabem que eu não estava na aula?
-Nós fomos procurá-lo e você não estava.
Neste mesmo instante do outro lado do viaduto passava um dos seus companheiros, o rapaz correndo como se estivesse devendo algo, Josué por uma distraída inocência disse:
-Avise a todos que me pegaram, corra, corra.
O capanga que possuía a cara de valentão correu atrás daquele que fugiu, enquanto o outro, espantado disse:
-Avise a quem e sobre o que?
Josué ainda não percebera que cometeu um erro, e continuou a falar.
-Ora os Senhores não descobriram tudo?
-Sobre o que meu rapaz? Estávamos na realidade atrás de pistas de um criminoso.
Josué espantado tremendo mais ainda perguntou:
-Criminoso, que criminoso?
-Um visinho seu matou um advogado e fugiu, como ele foi seu amigo de infância, queríamos apenas algumas informações sobre o acusado.
Chega então o outro carrasco puxando pelo braço o amigo de Josué com o rosto todo machucado, dizendo:
-Ele confessou tudo, hoje estamos com sorte viemos atrás de um peixinho encontramos tubarões.
Josué totalmente nervoso perguntou:
-Confessou o que?
O brutamonte após dar um chute no rapaz que tentou fugir disse:
-Que vocês são da guerrilha e estão presos.
Levou então Josué e o outro rapaz para um lugar próximo a estação da luz.
Chegaram lá desacordados, pois tomaram uma coronhada na cabeça. Jogaram Josué numa sela imunda e seu amigo para um outro lugar que provavelmente igual ou pior. A sela possuía paredes com manchas de mofo, baratas percorriam de um canto para o outro e pernilongos com seus zunidos irritantes pausavam, na pele de Josué tirando lhe sangue. Entrou um ser muito forte possuidor de uma voz gritante e um bafo de sentir a distância, de imediato deu um soco no rosto de Josué que caiu no chão arrebentando um dos cotovelos. O brutamonte não satisfeito pegou dois fios introduziu na tomada e a outra ponta nos pés de Josué que gritou de tanta dor provocada pelos choques. Aquele que o torturava, urinou num copo e forçou Josué a tomar, se não tomasse cortaria seus dedos da mão direita. Para não perder os dedos tomou de um só gole em seguida vomitou. O brutamonte dando risada falou:
-Não vamos ter o trabalho de trazer sua comida, isso que está no chão serve para pessoas como você. Deu um chute em Josué e disse:
-Boa noite bonequinha.
Josué não parava de chorar, havia passado mais de 28 horas sem alimentar e sabia que não ia receber comida, sendo assim, pegou umas baratas e comeu juntamente com seu vomito. Passaram uns dez minutos, colocaram pela portinha da cela um copo com água, quando Josué foi pegar, alguém com uma vara derrubaram o copo, caindo toda água. Algumas risadas ecoaram próximo à porta, enquanto isso, um monte de pernilongos, no corpo nu de Josué sugava seu sangue.
Josué pensou, isso tudo é um sonho, mas seu coração disparou como uma locomotiva e deu um grito:
-Socorro eu sou inocente e vocês saem de cima de mim, deixem meu corpo em paz...
Todos foram socorrê-lo naquele pequeno quartinho, mas era tarde. Sr. Berto tirou de suas mão um livro, aquele que Josué começou a ler, seu tio apavorado como nunca, disse:
-Ele está pálido, branco feito farinha, será que ele morreu, ou pior será que algum mal levou sua alma?
 Seu grito foi apavorante, como se alguém estivesse apossando do corpo dele, pobre menino!
-A bela Maristela que já trabalhou como enfermeira, tomou-lhe o pulso, balançou a cabeça para os presentes, encostou seu ouvido junto ao peito de Josué para escutar as batidas de seu coração, balançou novamente a cabeça, e disse:
-Ele já era, morreu.
Todos se sentiram culpados, pediram então para que o maquinista parasse o trem, já que restavam ainda três dias de viagem, tinham de fazer um enterro digno ao jovem e assim foi. Improvisaram um caixão amarrando o jovem Josué para que ele não se soltasse. Escolheram um lugar próximo a uma lagoa, havia um padre no trem que foi convidado a fazer a prece e a dizer as últimas palavras.
-Caros amigos e fiéis é triste uma pessoa tão jovem partir deste mundo, mas bem sabemos, todos escutaram “saiam de mim, deixem meu corpo em paz”; era o mal tomando seu corpo, um enterro digno através de uma aprece, livrará sua alma das forças do mal, se é à vontade de Deus, assim tem que ser.
Enquanto a padre falava de repente o defunto começou a gritar:
-Eles me pegaram, eles me pegaram!
Todos saíram correndo, Sr. Carlão com as pernas bambas de medo disse:
-Era o que eu temia as forças do mal pegou a alma de meu querido sobrinho. Josué continuava a dizer:
-Graças a Deus era um sonho, eles não me pegaram, gente eu estou vivo, me soltem, por favor.
O padre todo assustado disse:
-Isto é obra do demônio, atirem nele.
Maristela apavorada disse convicta:
-Tenho certeza que ele estava morto, minhas experiências como enfermeira prova os fatos, atirem nele o demônio está em seu corpo.
Todos diziam a mesma coisa, atirem no danado para livrar a alma do pobre Josué.
Josué debatia naquela armação que fizeram para ele, tentando falar, que ele dormiu, teve um pesadelo, deu um grito pensando que estava sendo torturado, ficando tão nervoso e apavorado a ponto de perder os sentidos.
O Sr. Berto, aquele que Josué fez cair disse que o morto estava tentado persuadir a todos e que na realidade o grande mal estava utilizando seu corpo para amaldiçoar a todos e que devia ser morto com fogo.
Sr Carlão estava prestes a dar um tiro no sobrinho, quando teve a idéia depois de ouvir o que o Sr. Berto. Pegou um galão de combustível jogou sobre o sobrinho, enquanto isso todos diziam:
-Vamos salvar sua alma Josué.
Josué desesperado, chorando implorava:
-Eu não morri, foi um sonho, não existe demônio algum, por favor, não façam isso. Josué viu que não tinha solução pediu uns instantes para falar.
-Já que vou morrer, quero deixar um alerta aos humanos do futuro, escutem bem o que vou falar, aquilo que aconteceu em meu sonho, pode vir a acontecer, se assim for, morrerei com a maior tristeza que um ser humano possa sentir. “Pensar que um homem possa destruir as idéias, a personalidade, a integridade, a dignidade e a liberdade de um outro que é semelhante a ele, de obrigar a rastejar feito um animal numa cela sem defesa nenhuma é demonstrar o quanto à humanidade é medíocre fortalecendo o seu estado de inexperiência e de maldade, a maldade mais avassaladora que possa existir “a maldade humana”, de destruir em segundos um todo que a natureza demorou milhões de anos para construir e ainda de perder ao poucos o sagrado orgulho de uma chance de viver e reconhecer o quanto ainda somos infantis”. Após estas palavras por uns instantes um silêncio tomou conta do lugar, em seguida todos disseram ao mesmo tempo, queimem, queimem. O padre completou:
-O demônio sempre caçou do ser humano, o mal sabe usar palavras bonitas, a tortura só existe para aqueles que a merecem, para aqueles que não reconhecem a apalavra de Deus, a justiça é concedida por Deus, se o cidadão está na cadeia é porque ele tem algo de mal.
O padre com os olhos vermelhos de tanto gritar foi o primeiro a acender o fogo e em seguida todos em silêncio fizeram o mesmo.
Josué teve tempo de dizer as últimas palavras:
-“Ainda assim, queimado em brasa por aqueles que são iguais a mim tenho a esperança de que um dia olhem para trás e vejam quantos grandes homens e mulheres com suas idéias persistentes acreditando no ser humano construíram um lado digno e verdadeiro da história da humanidade”.
Aquelas palavras nem pareciam do jovem Josué, este fato aconteceu no ano de 1918, numa dessas viagens corriqueira de trem num lugar próximo a grande São Paulo. Hoje sou preso político fui torturado e humilhado, naquela época era um jovem padre de 22 anos, agora estou com 68 anos, não tenho esperança nenhuma de sair daqui, muitos amigos foram mortos outros fugiram, só espero que alguém possa divulgar ao mundo o que escrevo e que os fatos sejam apurados para que as cenas do inferno não se repitam.


Milhares de pessoas desapareceram na época da ditadura, por isso desconhecemos o nome do padre, mas por algum motivo este relato sobreviveu, foi encontrado no meio de um livro, Recordações da Casa dos Mortos de Dostoievski, na biblioteca Municipal do Rio de Janeiro, em fevereiro do ano de 2000.





MAURÍCIO ELOY
16/11/2000

Só o silêncio


Viver, a impermanência do existir em que as mãos na terra são lembranças de dias longos comedidos de silêncio vibrantes sem tempo nem certezas...
A janela que habita minha casa no meu corpo é o olho de meu passado distante de mim em que as cores opacas já não vejo mais... 
Meu grito é impiedoso, abafado sacrilégio e sacrifício, mas é meu grito...
A dor é minha responsabilidade...
Só o silêncio me conforta e me aborta...não sou movido pela tristeza, mas o paterno sentimento vez ou outra me convida para passear, não resisto...vou...as vezes na caminhada mansa ou no caloroso desejo de mergulhar na maldita feminina tristeza de engrenagens masculinas...
Do que vale as barulhentas palavras que consomem as pessoas na carne se a arte é a própria carne que move o ser...
Só o silêncio desenhado em mim invade minha alma...e ali o mundo é meu...ali eu vivo e morro...

Eloy
18/12/2010
3:07 / 12:19  

Cool e já não Hot


Naqueles tempos em que os motores começaram a falar e as crianças eram encardidas pelas estruturas delirantes maquinosas, nascia tenebrosamente o homem moderno e com ele a esperança já não era mais o imaginário nem o sobrenatural, mas, a sedução exercida pela majestosa tecnologia. Anos mais tarde o culto cego e grandioso toma forças sacralizando o Silício, este enamorado da ilusão...   
O grande espetáculo está em todos os lugares, somos atores com múltiplo papéis, na maioria das vezes narcisistas ingênuos vivendo a vida Kit-retrô, o tempo não existe, só o presente que importa...o instantâneo, a vida liquida está consumada.  A nostalgia é capricho para os poetas e o cidadão mergulha no galante imediatismo, o super-homem perde seu poder, os X-men entram contudo em ação e se espalham na sociedade lutando por seus direitos. Os discretos chames da sedução é destruidora e as técnicas imperativas belezas levam o ser humano ao isolamento em grupo ou individual, e diante do espetáculo o corpo deve ser exibido, mostrado, apresentado...nesses tempos amaciados pela liberdade enganosa...o ser humano se alimenta da tecnologia como torta de morango...e pede mais mesmo coma barriga estufada...


Eloy
05/01/2011
17:00        

O medo de Franz Kafka


Cólera, arrebatadora insensatez das palavras como ponta de faca em meu peito , essas palavras eram suas ...o ruído invadindo minha pele, gastas de sofrimento e angustia...
Humilhação senhora medonha era sua companheira em mim...lascas de humano arrancadas como raízes de arvores gigantes com força e vontade...quantas tantas você tirou de mim...
Tantas vezes a calejada frieza era despejada em meus olhos...e você repetindo sem cansaço...eu me escondia no meu canto com meus livros...a solidão me comia...
Era pequeno, chorava manhoso e seu rosto cúmplice de suas mãos sem culpa arrancou do quentinho, e ali, diante à porta trancada vi a imensidão do mundo, me apavorei e o silêncio reinou em meu coração com dor.
O medo foi maior que minha vida meu querido pai...

Eloy
18/12/2010
14:26 

O Homem com o carrinho de mão


O que eu vou dizer a você quando chegar, e ver que o tempo não é o mesmo e as palavras se construíram na dureza dos dias...Os meus sonhos que brilhavam se acinzentaram lentamente e nossos olhos eram acometidos de distanciamento silenciosos como manhãs chuvosas sem vontade de ver o dia...
O meu medo constante é ter a certeza que eu não vou chegar, e ver dia a dia que meu carrinho de mercado é minha morada é meu mundo...
Quantas noites meu corpo se alimentou embriagado vacilante doido e com meus dedos rígidos marcavam a face da moça, sua face pura, graciosa e verdadeira...me arrependia mil vezes no dia...mas quantas noites, o mundo quase calado...eu te marcava como um gado... hoje são 10 anos sem vida..sem cheiro, sem gosto, sem ver e sem você...
Matei a vida com a estupidez de minhas vontades.

   
Essa história é muito próxima a história de um rapaz que num domingo me ajudou com meu carrinho de livros que eu sempre levo aos domingos no MASP...outro dia vi que ele também tem um carrinho...o dele era um carrinho de mercado, onde carregava toda a vida dele ali dentro...existem carrinhos de sonhos e carrinhos de vida...deve existir tantos carrinhos que a gente nem imagina...

Eloy
00:50
23/12/2010

A desesperançosa maneira de querer ser


Calejada insensatez dos dias em que a vida come o tempo e o cheiro da vontade me invade, meus olhos cansam de não te ver mais, e o riso que era espontâneo consome por dentro a beleza e minha boca apenas existe.
O frio mora em mim como tempos perdidos em que a história não faz vibrar verdades inocentes de nós. Mesmo vendo os nossos vestígios no coberto que nos abrigou longos invernos, e ali nossas mãos brincavam sorrateiras, noites e dias....
Lembro com os olhos intumescidos de lágrimas o quanto gostava de nossas conversas misturadas com a seriedade profunda dos pensamentos atropelados às vezes por idéias loucas e até palavras mesmo sem sentido, e ali, no meio de nossos delírios, vez ou outra os risos se misturavam com os beijos...mansos, longos e bonitos.
De que vale querer ser grande se o sentimento maior que habita o meu peito é o desejo de ter seus olhos em mim...e o meus encontrar no meio do caminho os seus...
A saudade é uma miséria pálida sem esperança...hoje minha pele cansada pelo tempo ainda sente seu suor que invadiu muitas vezes em mim...
Foi numa tarde chuvosa que a vi partir,   o vidro embaçado pelas fortes gotas da janela impediram que seu corpo sumisse diante de meus olhos.
Dias depois ainda entristecido pela sua ausência....uma notícia castigou minha alma...um pouco antes de tomar o liquido da despedida.
Seu corpo ainda bonito se encontrava no meio da rua em sua mão uma pequena carta que dizia sobre nós:
Nunca pensei que um dia iria encontrar a felicidade...mesmo com as diferenças que vez ou outra nos abrigava, sempre valeu a pena estar contigo, mesmo nessa ultima vez em que os gritos nos cobriram a boca...e sai pensando em não voltar...
O que é o amor se não a dureza de querer enfrentar o mundo, de olhar com coragem para o horrível viver sem ter, mas que vale, onde as mãos que se tocam como cúmplice de tudo...e as pequenas coisas partilhadas com uma imensidão onde o nada é menor que a necessidade...estou voltando querido.....minha felicidade é você...


Eloy
14:02
24/12/2010

A alma do homem: Vincent Van Gogh



 Obscuro tempo das incertezas calejadas de esperanças delirantes, um homem tem um sonho de querer ter uma alma....
Seus olhos mergulhavam na paisagem como flores aos polens, e num gesto desesperado pintava como um animal em busca do ser humano.
As cartas eram o amor pela verdade, onde as palavras enxugavam as dores do mundo e as dores do corpo, confirmando a cumplicidade do sangue que foi a mais profunda produzida pela história, Vincent tentava apenas viver...e seu irmão também...
No último Van Gogh pintado, seus olhos quietos, trás a tristeza firme e a visão do futuro como foi toda sua vida, acompanhada do sonho, da solidão e do sofrimento. O azul domina com leveza e harmonia quase toda obra, mas, é o seu olhar que ainda perturba, que fala dentro de nós dos vestígios de alguém que toda sua vida buscou com coragem, mesmo se precisando da morte como fim e da pintura como certeza de mostrar a vida ao homem...


Eloy
26/12/2010
17:08

O mundo leve e perfumado


 Aqueles dias pareciam calmos como poucos existiram no tempo a cada tempo...
a tristeza calejada de mim afogou em meu corpo apagando meu riso pequeno, mas certo de que a vida me daria a alegria de seus olhos que um dia pousaram em mim.
O peso de toda angustia de querer viver o não vivido desatina em meu peito sua delicadeza sagaz de beleza e ternura que assusta o mundo e a todos.
Silêncio me leva contigo como um pássaro sem rumo na ingênua liberdade disfarçada de firmeza em que o coração aceita a dor, ainda que a chegada da esperança seja ficção desesperada do existir.
Risível estado do ser trás em minhas memórias o mundo leve e perfumado ilustrado por sua voz macia que entrava em mim como o ar invisível verdadeiro diante do imaginário viver.
Meus olhos cálidos sufocados dos dias pensam com lágrimas perdidas o relevo que você foi em mim ainda vivo mesmo intocável diante dos dias e de tudo.
O sempre é ilusão abortando o encanto e a beleza que silencia minha alma e meu corpo perdido na relva de mim junto ao sonho e a realidade que ainda não sei, e apenas imagino se um dia saberei...sobre o seu mundo leve e perfumado...


Eloy
01:06
30/12/2010

Um perfume para o mundo



As velhas casas varridas de julgamento tomaram conta do mundo e a pequena Flor com seu sorriso fez brilhar a paisagem que era dela, somente dela...a coragem que tomava seu corpo era sua amiga renascendo como uma borboleta pro mundo....igual seu nome,  que é puro...e bonito.
O que o vale mil canhões charmosos grandes e majestosos ou um sorriso que nos trás o encanto singelo e natural...?
As trombetas da verdade querem respostas, mas não escutam a pequena Flor, que simplesmente pensou em querer o querer...com suas pétalas transparentes, belas, macias, tímidas, mas fortes...galantes como uma música sem fim.
”Queria ter a tua coragem pequenina Flor, pra enfrentar a monstruosidade do viver, em que as lágrimas desenhe a verdade que é tua demais ninguém” .. Suas pétalas são belas pequeninas diante da multidão do mundo, mas seu perfume devaneio que se espalha mais que o tempo e entra como poesia no peito dos atentos...
Pequenina Flor que os olhos todos vejam você, ali, brilhar no meio de tudo e que seu perfume tome  o mundo, pra ele sorrir como você sem medo do querer viver.....


Eloy
11/01/2011
01:20

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Aflorar nua e crua nas marcas do sofá

A morte, mansa senhora descortina o corpo polido de desejos dos segredos daqueles pensamentos empoeirados de vida em que a boca procura desesperadamente o gesto absurdo do delírio de seu beijo silencioso.
Inquietude vacilante nas mãos trêmulas e os olhos lacrimejantes no canto daquele sofá que tem as marcas de cotovelos como registros feitos desenhos dela procurando pelo cheiro visceral dos vestígios dele.
A noite, madame silenciosa de mãos dadas com a tristeza apaixonou-se pela morte, e moça inquietante com seu desespero tardio diante do espelho dormia, e sua voz rouca padeceu levemente depois de muitas vezes deliciosamente a comer poesia pra ele.
Os tempos de tantos tempos no aroma do vinho das noites em que eles riam diante da pequena mancha que brilhava na camisa branca e a mão nos olhos perdidos quentes conversavam na madrugada sem medida nem vícios.
Ali, depois de muitos momentos repousou o som do desejo, e ela calejada da tristeza sóbria partiu feroz ao sofá na vontade de sentir agora o aflorar nua e crua nas marcas de tocar apenas o que um dia existiu.


Eloy
11/12/2010
01:42